sexta-feira, 2 de março de 2012

Para jovens, abrir mão de anabolizantes significa renegar beleza e força


 









Os esteróides anabolizantes e os complexos vitamínicos veterinários provocam um vício peculiar. O usuário fica focado nos seus resultados. À medida que se vê o corpo se transformando, mais se quer aumentar os músculos


O vigilante Sérgio*, hoje aos 26 anos, procurou a musculação muito menos pela saúde que pela estética. Tinha 18 anos, 1,75 metro, 50 quilos e nenhum conhecimento sobre anabolizantes. Queria poder ter, pelo menos, mais que pele cobrindo as estruturas do corpo. Quem mostrou o caminho foram os próprios instrutores da academia. Ao invés de buscar um nutricionista ou um médico do esporte, o jovem procurou medicamento que fizesse milagre. E o milagre foi feito. As consequências também não tardaram.


Em pouco menos de um ano, passou de 50 para 95 quilos. Sentia-se seguro. E não precisava de muito esforço para ver inchar os músculos onde aplicava o polivitamínico veterinário. Até que abscessos começaram a surgir em cada ponto onde injetava o ADE (união das vitaminas A, D e E, em doses altíssimas). Mesmo com o alerta de um médico, amigo seu, de que tumores são os primeiros sinais de uma infecção grave, não é o objetivo de Sérgio parar de usar.


“Não vou parar porque, até agora, só vi bons resultados”, delimita Sérgio. “É natural o jovem não querer largar um medicamento quando o remédio lhe trouxe ‘bem’, entre aspas. Ele só vai entender as conseqüências quando elas realmente se agravarem”, aponta o psicólogo Fábio Marques Nogueira. Segundo o psicólogo, é mais difícil para um jovem deixar de usar medicamentos que aparentemente só lhe trouxeram coisas boas. “Na juventude, a aparência é algo muito importante. Principalmente se os esteroides forem tomados na fase da adolescência, anterior ao desenvolvimento muscular. O jovem acredita que, sem esses medicamentos, jamais teria massa muscular”, informa.


Para a professora do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), Sabrina Matos, produzir um corpo malhado, sarado, perfeito, é a busca de muitos - não somente adolescentes. “No geral, os estudos apontam a faixa de 20 a 30 anos como a que mais abusa desse tipo de droga”. A professora pontua que os anabolizantes entram em cena como toda droga, com o diferencial de que o usuário não se considera um viciado. Ele acha que pode parar o uso no momento em que quiser.


Dependência


“Abdicar disso (das melhoras aparentes causadas pelo uso de esteróides anabolizantes) pode ser algo muito difícil, como é muito difícil deixar de lado qualquer outra substância química”, analisa. A dificuldade, conforme a professora, é que retirar a droga significa renegar vários valores, como o da beleza, da sexualidade, da força. “E isso não é fácil”.


O vício provocado pelos anabolizantes está muito mais ligado aos resultados que eles provocam. Não é a dependência química, como outras drogas. Segundo o professor do curso de Educação Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Vilar, com o passar do tempo, os resultados esperados não são os obtidos. “Não é o medicamento que vicia, é o corpo que se acostuma. Cada vez mais você precisa de doses maiores para atender os resultados esperados”, informa Vilar.


Os esteróides anabolizantes são medicamentos indicados para perdas musculares em consequência de doenças como leucemia e Aids. A bula aponta conseqüências drásticas para quem toma doses pequenas, como as recomendadas para os pacientes com problemas graves. Para obter corpos acima do natural, é preciso multiplicar por vários números o consumo do medicamento.


Por quê


ENTENDA A NOTÍCIA

Para um jovem que tomou as primeiras doses de anabolizante no início do desenvolvimento muscular é bem mais difícil, no geral, que eles abandonem o esteróide que os adultos. Eles acreditam que não conseguiriam desenvolver músculos apenas com exercício.

Saber ouvir

Segundo a professora do curso de Psicologia da Unifor, Sabrina Matos, é importante que os pais saibam ouvir, estar presente, participem da rotina dos filhos. “Hoje em dia os pais quase não veem os filhos. Creche todos os dias das 7 às 17 horas. Nas férias: Colônia de Férias, quase não se dá mais atenção aos filhos”.

Aumento de músculos

Segundo médicos e profissionais de educação física, os primeiros sinais que podem ser notados é o aumento muito rápido dos músculos da pessoa que usa anabolizantes. Em geral, um aumento fora do comum nos primeiros três meses. Para os homens, uma maior agressividade. Para as mulheres, engrossamento da voz, aparecimento de pelos.

Minoria

O professor do curso de Educação Física da Universidade Federal do Ceará, José Vilar, aponta que é uma minoria os profissionais de Educação Física que tem contato com o mercado ilegal de esteroides anabolizantes.

* nome fictício para preservar o entrevistado.


Por Angélica Feitosa


Fonte: O Povo On Line

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